Certa feita, enquanto jovem, percorria os primeiros quarteirões centrais da Av. Olegário Marciel, em BH, ladeado por conviva que, à época, considerado meia-idade — observei-o demonstração de amargura n’alma –, dissera-me “amo somente meu cachorro”, que me causou espécie, isto, certamente, porque eu, até então, muito mais desconher as incontáveis especificidades da natureza humana, que, ora, o texto, a seguir, elucida, talvez, parte da afligente incognita, incluisive e principalmente presente décadas antecedentes à aparição do nosso miseraveis.com:
É comum ouvir críticas a quem trata cachorro como se fosse gente. Concordo plenamente!
Cachorro é cachorro, gente é gente.
Cachorro tem que ser tratado como cachorro – com respeito à sua fidelidade, ao seu caráter, ao seu amor e sua pureza.
Cachorro não finge, não trai, não julga, não mente.
Cachorro te ama pelo que você é, seja lá quem você for, milionário ou indigente.
Cachorro é emocionalmente inteligente, não guarda mágoas. Perdoa sem que você tenha que implorar perdão.
E, uma vez perdoado, o perdão é permanente.
Por que haveríamos de tratar um ser assim como se fosse gente?
Gente a gente também não deve tratar como cachorro.
Porque não é qualquer um que merece carinho na barriga, cafuné na orelha, demonstração de amor sem motivo aparente.
Gente não morde. Mas há outras formas de se cravar o dente, no coração, no bolso, na alma.
Por vezes com veneno de serpente.
Gente fofoca, calunia, te beija enquanto te inveja, e te odeia, sorridente.⠀
Cachorro obedece, respeita, se submete.
Gente ama com ressalvas, faz promessas que não cumpre.
Só cachorro (e uma ou outra mãe) é que ama incondicionalmente.
Por que tratar como cachorro – que fica ao seu lado até a morte – alguém que te abandona de repente?
É totalmente sem noção e incoerente tratar gente como se fosse cachorro – e tratar cachorro como se fosse gente.
Cachorro é um ser superior, em forma de amor que em qualquer circunstância, merece a nossa proteção.

Texto: Eduardo Afonso