Eu, na qualidade de produtor musical e promotor de Festas, protagonizei, indiscriminadamente, em todos clubes de diferentes níveis sociais localizados em BH, alem da condição de figurante, desfrutei de tantos dos seus muitos aprazíveis lugares:
“A juventude de hoje não faz a mínima ideia de como era boa essa Belo Horizonte na nossa adolescência.

Na época em que a bela Belo Horizonte em crescimento se recolhia às 22 horas, no tempo do último ônibus às 23, do sinal de TV que apagava deixando chuviscos no ar às 24, não sem antes recomendar que a população fosse dormir, não esperasse mamãe mandar, vivíamos na ‘idade média’, mas, pensando bem, não era tão ruim.

Haviam políticos menos desonestos, desembargadores ilibados, incorruptíveis juízes, magistrados que desencarnados emprestavam seus nomes as nossas então arborizadas avenidas, lembras disso? Bandidos eram escassos e tinham pavor da polícia.

Época em que só se compravam preciosidades importadas, calça Lee, Levys, perfume Lancaster e radiozinhos portáteis japoneses na clandestinidade, na boutique em casa de dona Fulana, em endereços super secretos, que todos conheciam.
O grande “point” de compras de todos os sonhos de consumo, existente abaixo da linha do Equador, e chic era cortar cabelo no Nero, tudo na galeria Ouvidor.

Boemia com matriz no Lagoinha e seus cinemas com programação “especial”, Mercado dos Produtores — posteriormente, transferrira-se para bairro Cidade Nova –, e o bar do Adão, na Santos Dumont, também os restaurantes Rosario e Escoltelaro, na Paraná.

Praça Rio Branco (Estação Rodoviaria) com seu museu de mineralogia e a agitada boite Sukata.

Falo de uma época em que tudo acontecia no centro de BH da honoráveis indígenas, Carijós, Tupis, Tupinambás, Caetés e tantas mais, irmanadas com Estados e Cidades brasileiras .
Nesses cruzamentos e vizinhanças se abrigavam restaurantes, barzinhos, botecos e lanchonetes inesquecíveis, como Rei do Kibe, em frente ao Colégio da AEC, onde irmanados as “tribos” se encontravam para desgustações gastronômicas e etílicas.

Ir aos simpáticos Ted’s e Sacy na Rua dos Tupis, em frente ao Cine Tupi ou Jacques, tomar milk shake e comer um misto, ou americano, Padaria Boschi, com sanduíche de peril, na guajajaras esquina Av Alvares Cabral; excelente lanchonete Orange Baloon na loja Sears, Rua Bahia; o trailer de sanduíche komilão, rua Coelho de Souza esquina Contorno, local “deserto”, mas, presenças intensas de casais de namorados em carros.
Após o cinema, era o programa dos domingos dos adolescentes
.

Subir a Rua do Espírito Santo para degustar uma coxinha com catupiry da Torre Eiffel, a glória.
Virar à esquerda e descer a rua dos Goytacazes, se deliciar com o pão de queijo da Camponesa, felicidade.
E aí, de repente, já se deparava com a vista maravilhosa do Cine Metrópole, às margens da rua da Bahia. Alegria geral.

Mais tarde, percorrer a rua da Bahia, atravessar a Av. Antonio Augusto de Lima, jornalista, poeta e magistrado mineiro, entrar na Cantina do Lucas, atendimento personalizado top de linha, no lendário Maletta. Genial!

Saborear um cachorro quente ou uma “banana split” das Lojas Americanas na Rua São Paulo, cair no footing saudável da Av. Afonso Pena – Afonso Augusto Moreira Pena, Ilustríssimo advogado nascido na acolhedora Santa Bárbara, sexto Presidente do Brasil. Paqueras, namoros no encontros dos “estados” omo irmãos a se desaguarem na Afonso Pena.

Podia-se jogar sinuca no Metro, na Rua dos Tupinambás com Curitiba, onde estrelava o melhor croquete da Capital, indispensável, ou comer um sanduíche de linguiça e PF composto com a embutida iguaria, no Café Palhares.

Volta a Rua do Espírito Santo, antes de chegar a Carijós, tomar um chopp geladíssimo no Tip Top, com tira-gosto alemão. Sofisticação internacional.
O quibe da Gruta OK na Rua dos Tamoios, ao lado da antiga Assembleia dos Vereadores era melhor do que de todos os árabes Salins e Mustafás, patrícios do Oriente Médio até o Golfo Pérsico, inigualável no tamanho e no sabor!
As loiras geladas do Teorema da Rua dos Tupis com Rio de Janeiro, Jesus Amado, quantas e quantas. Meu Deus!

La Bella Itália se encontrava no centro da Bela Belo Hrizonte e a Cantina do Ângelo, na Rua dos Tupinambás com Amazonas não ficava nada a dever ao afamado Alfredo, de Roma.
No Giulio da Rua Curitiba, no Scotellaro da Av. Paraná, comia-se melhor que em todas tratorias italianas da Toscana. Madonna Santa, que saudade!

Romanas eram aquelas Vias, Vias Vênetos dos mineiros para ser bem romântico, dolce vita noturna belo-horizontina.
O sanduíche de pernil com pão quente da hora da Padaria Boschi, Rua dos Tamoios com Rio de Janeiro, irresistível.

Se ouvia música de verdade para dançar nos fantásticos bailes de formatura, carnaval, nas horas dançantes, no PIC, no Iate, nos DCEs da Federal e da Católica, no Círculo Militar, da Sociedade Mineira dos Engenheiros, no Clube dos Oficiais da PM, no Prado, no Elite danças, Feirantes, Tecelões, Ginásio Renascença, Clube Ipiranga, Oasis, Escola de Veterinária, Colônia Portuguesa e Sociedade Italiana, muitos no Centro e tantos outros espalhados nós bairros, além dos clubinhos escondidos na região central, e o encantamento das festas juninas do Cruzeiro Campestre, do clube Belo Horizonte, do Country, do Minas, do Barroca com boas bandas (Gárgulas, Woodock Lins Company, Impactos, Célio Balona, Turbulentos etc.), incrível!

Depois, aquela fome danada de fim de festa, inclusive de casamento sem comida, e despencava-se para a Praça Raul Soares, Senador das Minas Gerais, oriundo da aprazível cidade Ubá, das mangas com seu título e sem linhas, deliciosas.
Praça onde se encontravam aqueles estabelecimentos que funcionavam 24 horas e que saciavam a fome da madrugada e da boemia,
o Scaramouche, Hi-Fi, a Pizza do Macau, a Spaguetelândia estavam sempre abertos, era manjar dos deuses no final da noitada.

Havia muitos “mocós”, quem se lembra daqueles estabelecimentos de diversão saudável, gastronômicos entre muitas aspas e disputadíssimos nos fins de semana? Diversificar, alongar o roteiro, ir ao Pizzaiolo da Contorno, das mil e uma pizzas, na Rua Pernambuco, tomar umas batidas no Beb’s, dos mil e um sabores, ou comer um mexidão de fim de noite no “Arroz com Feijão” na Savassi. Indescritível!

Por fim, finalizar no Pizzarella, saudosa lembrança, e até hoje presente na Av. do Presidente Olegário Dias Maciel, Líder revolucionário de 1930, Engenheiro de Bom Despacho, Cidade Sorriso. Divino.

Outros mil redutos que existiam, acolhimentos que fugiram da memória, nasceram e evaporaram sem que déssemos conta, desapareceram das nossas lembranças.
Quem se lembrar que escreva, não vamos deixar cair no esquecimento aqueles que por algum tempo nos foram tão queridos
.

Caminhando pelas Ruas da cidade, saltitante adolescente Belorizonte, amiga e companheira, aprontando alegrias, sorrindo, fazendo planos, trocando ideias, gastando juventude, procurando a tal felicidade.
Era bom demais!”